domingo, 1 de julho de 2012

A Mulher do Espelho


Tem uma mulher morando no meu espelho.
Ela é magra demais e traz no rosto marcas de expressão, daquelas de quem andou chorando muito de dor.
Parece perdida. Não sei se ela sabe quem é.
Tem olhos sem brilho, daqueles de quem passa noites sem dormir e dias sem viver.
Antes dela aparecer, morava outra no meu espelho.
Aquela vivia cuidadosamente vestida, meticulosamente maquilada. Até seu perfume dava para sentir no espelho.
No reflexo, eu via suas unhas longas e vermelhas, o salto alto, as chaves do carro na mão e o ar de quem sabia como, onde e porque.
A que vive hoje no espelho usa um colete de mau gosto, mistura de elásticos e ferros, tão diferente dos corsets sexys da outra.
Passei pelo espelho agora e ela está lá, aqueles olhos sem brilho de quem nunca dorme.
É essa a mulher que mora hoje no meu espelho. Não gosto dela. Resolvi procurar pela outra.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Amor


Amor.
Sentimento que não pode ser traduzido em palavras. Amor é sentido, é dado, doado, correspondido, amado, retribuído, não correspondido. É sorriso, é lágrima, é felicidade, é dor.
Poemas, tratados científicos, imagens, recadinhos guardados como tesouros, cartas respondidas/correspondidas, cartas amarelas.
Tantas tentativas de rotular o amor.
"A vida é a arte do encontro"
"O amor é construído por pequenos gestos".

Amor não precisa ser correspondido para continuar amando. Poético. Patético.
O amor é um sentimento vivo, e como tudo o que é vivo, precisa de alimento para continuar vivendo.
"O amor é construído por pequenos gestos". Talvez.
Mas certamente é desconstruído pela falta deles.
Não morre de repente. Vai morrendo aos poucos.
Vai sendo morto pelo que foi feito à ele, e pelo que não foi feito.

Um verdadeiro amor sobrevive a grandes tempestades, a ausências, a palavras duras, a deslealdade, a traições, a idas e voltas. Sobrevive se for alimentado, mesmo que não correspondido.

Amor incondicional. Poético. Patético.
O amor sobrevive a tudo, menos ao descaso. Sobrevive a tudo, menos a falta de "pequenos gestos" do tipo: "oi, você chegou bem em casa"?.

Dois anos. Você se esforçou por dois anos para matar meu amor.
Parabéns: deu certo.
Vou reescrever minha história.