domingo, 16 de janeiro de 2011

Me quero de volta


Nada a ver com a música It's Raining Men.
Passando os olhos pela agenda da USP, me deparei hoje com essa obra de Magritte. Quase cinco minutos para lembrar o nome do artista. Não que conheça todas as obras desse gênio da pintura, mas Magritte é inconfundível, contraditório, anarquista; em seus quadros, nada está onde deveria, nunca. E dai?

E dai que percebi há quanto tempo tenho estado perdida de mim.
Mim (coisa de índio) que, há algum tempo ouviu de seus colegas do curso de Estilismo, em aulas de História da Arte: você deveria estar dando essa aula. (não sou expert em nada; apenas amo a arte)

Mim, que quase chorou diante da precisão fotográfica do pincel de Caravaggio na Ceia de Emaús, na National Gallery.

Mim, que de tanto analisar (maravilhada), encontrou falhas nas pinceladas de Van Gogh no único quadro do artista que o British Museum abriga.

Tate Gallery, Van Gogh Museum, Rembrandt House Museum, Louvre ... e mim, horas e horas perdida em história e arte da melhor qualidade.

Mim, rata de galeria de arte, de museu, de biblioteca, de livraria, de sebo.
Mim escritora; 12 anos de publicações.
Mim estilista, viciada moulage, em réguas, tintas, pincéis, lápis de cor. Mim, perambulando pelas Maisons da Europa ou da Oscar Freire. Dior, Guggi, D&G, Chanel ... John Galliano e Lino Vilaventura, meus ídolos.
Mim no São Paulo Fashion Week.

Mim, sacerdotisa da Deusa iniciada em Avallon. Mim no Goddess Conference, em Stonehenge, subindo o Tor, bebendo das águas do Chalice Well.

Mim e entrevistas na TV, palestras, workshops. Mim, anos e anos ensinando mulheres a resgatar o poder da Deusa em si mesmas.
Não, não é sonho de consumo. É realidade vivida, sorvida, absorvida, curriculum de vida.

Dia desses, passando o cartão de crédito numa loja, ouvi da dona: "nossa, é tu. Acompanhei tuas matérias em jornal por anos" ... e nem parei para pensar.

Dia desses, uma de minhas filhas disse: "mãe, o que aconteceu contigo? eu tinha tanto orgulho da mulher que tu eras" ... e nem parei para pensar.


Onde foi que eu me perdi de mim?
Em que curva da estrada deixei de me encantar pelas cores de Miró, pela maestria de Waterhouse, pelas palavras de Virginia Wolf, pela genialidade de Garcia Marquez?
Meus desenhos já amarelados, onde foram guardados? Em que caixa soterrei minhas criações, em que pasta arquivei meus escritos?

Tradição da Deusa, Mistérios do Sangue, Rito de Consagração do Ventre ... alguém ai lembra de como eu dançava e ensinava Danças Circulares? Perdi a música, a inspiração, o ritmo; me perdi da Deusa em mim.

"liberte-se, mulher
desse sonho de aguardar

que te libertem

com os braços cruzados"


Não sei onde estou, mas não importa.
Me quero de volta.