Meus dias têm sido particularmente insuportáveis. Iguais. Desprovidos de emoção, de vontade, de cor. O único sentimento real que carrego hoje é o da impotência. Creio que nem amor eu sinto mais.
Nem amor, nem ódio, nem raiva, nem simpatia, nem desespero, nem esperança, nem saudade, nem vontade. Apenas impotência.
Há três anos optei pelo "ligue o foda-se e seja feliz", na tentativa de minimizar a dor de um golpe que mulher alguma merece receber. Descobri, com os resultados, que apertei o botão errado. Descobri que existe mais de um botão com a mesma função, e o "foda-se" errado pode ter resultados desastrosos. Bem, agora é tarde. Foda-se!
Semeei mal nesses três anos. Tinha consciência de que eram as pessoas erradas, as decisões erradas, as ações erradas. Queria simplesmente não sofrer e plantei mais sofrimento.
Vivi de uma forma meio tresloucada, fiz o que não podia, o que não deveria ter feito.
Ah, eu tenho muitos defeitos. Desses que fazem corar a hipocrisia social. E eu achava o máximo levantar a bandeira-anti-hipocrisia. Mas os idealistas sempre se fodem. Não existe liberdade sem preço e pela minha paguei caro. Pago caro ... e minhas moedas falsas estão terminando.
Era do tipo que acreditava que se pode mudar o mundo com uma idéia. Quanta besteira.
Ah, eu tenho mesmo muitos defeitos. Acreditar nas pessoas é um deles. Hoje eu sei que 'acreditar nas pessoas' significa apenas que se quer acreditar que as pessoas são como acreditamos. E as pessoas são como são. Não adianta olharmos através de uma lente cor-de-rosa, que filtra os defeitos, a maldade, o oportunismo, o sarcasmo, o ‘to-nem-ai-pra-você’ e colocar cor em qualidades que, na maioria das vezes, foram inventadas por nosso desejo de que elas existissem.
Pensar que, no final tudo vai dar certo, é outro defeito. O que significa 'dar certo', senão desejar que as coisas tomem o rumo que desejamos. Dar certo é apenas um ponto de vista unilateral. E meu ponto de vista unilateral ainda é caolho.
Aliás, tenho sido caolha nesses últimos três anos. E acho eu esse único olho é míope.
Ingenuidade. Passei da idade e ainda sofro desse mal. Mas até a ingenuidade acho que é premeditada, calculada. Sou ingênua com o que me convém ser. Ou com quem me convém. Não sou ingênua porque as pessoas me enganam. Sou ingênua porque me deixo enganar, acreditando que, no final, tudo vai dar certo e que as pessoas são dignas de credibilidade.
No final das contas, minha ingenuidade não passa de uma artimanha elaborada por meu eu nem tão inconsciente assim; se eu fingir que acredito, as coisas tomarão o rumo que desejo.
“No final tudo vai dar certo”. É, vai. Mas, quando chega o final? Em que curva dessa montanha russa é chegado o momento de gritar a safe, de admitir que nada está sob controle e que porra nenhuma vai dar certo só porque eu quero que de?
A impotência física que acompanha meus dias insuportáveis tem nome: ânterolistese L4-L5 acompanhada de formação de cisto sinovial. O nome é bonito; a dor não.
A impotência emocional - nem amor, nem ódio, nem raiva, nem simpatia, nem desespero, nem esperança, nem saudade, nem vontade, apenas impotência, essa também tem nome(s).
Tem sobrenome(s). E, quando lhes é conveniente, lembram do meu nome. Contam-me as suas mentiras. Eu finjo que acredito. Ele(a)s fingem que não sabem que eu apenas finjo que acredito. Eu finjo que não dói. Eles fingem que se importam. Eu finjo que, no final, tudo vai dar certo. Eles não fingem mais que estão se lixando para o meu final infeliz.
Revolta? Não. Eu ainda acredito que tudo vai dar certo. E agradeço.
Como filha da Deusa, eu agradeço. Agradeço á todos os que, de uma forma ou outra, consciente ou inconscientemente, me empurraram pro precipício (eu não me importo com isso. Eu adoro voar). Agradeço aos seus sorrisos falsos, a sua amizade made in Paraguai, ao seu oportunismo calculado, ao roubo dissimulado, ao seus descasos, as suas mentiras, a falta de respeito, a falta de amor. Agradeço sinceramente a todos aqueles que contribuíram para meu atual estado de impotência, de infelicidade, de solidão.
Não fosse a falta de honestidade, de transparência e de caráter de algumas pessoas, certamente hoje não estaria eu assim. Impotente, infeliz e sem rumo.
Mas agradeço e os abençoo. Não fosse por vocês, talvez eu jamais tivesse chegado aonde cheguei e, consequentemente, não estaria hoje vivendo solitária e dolorosamente a grande Iniciação nos Mistérios de Innana.
Morrer e renascer, a Roda está a girar.
Blessed and be!
Oi Mara
ResponderExcluirLindo texto mas o desespero nele me preocupa.
Infernos existem para entrarmos e sairmos deles. De preferência acabando com eles.
Beijinhos
Que a Roda gire, Mara!
ResponderExcluirBjs