domingo, 10 de julho de 2011

Descida ao inferno (no mundo de Ereshkigal)


Meus dias têm sido particularmente insuportáveis. Iguais. Desprovidos de emoção, de vontade, de cor. O único sentimento real que carrego hoje é o da impotência. Creio que nem amor eu sinto mais.

Nem amor, nem ódio, nem raiva, nem simpatia, nem desespero, nem esperança, nem saudade, nem vontade. Apenas impotência.


Há três anos optei pelo "ligue o foda-se e seja feliz", na tentativa de minimizar a dor de um golpe que mulher alguma merece receber. Descobri, com os resultados, que apertei o botão errado. Descobri que existe mais de um botão com a mesma função, e o "foda-se" errado pode ter resultados desastrosos. Bem, agora é tarde. Foda-se!

Semeei mal nesses três anos. Tinha consciência de que eram as pessoas erradas, as decisões erradas, as ações erradas. Queria simplesmente não sofrer e plantei mais sofrimento.

Vivi de uma forma meio tresloucada, fiz o que não podia, o que não deveria ter feito.

Ah, eu tenho muitos defeitos. Desses que fazem corar a hipocrisia social. E eu achava o máximo levantar a bandeira-anti-hipocrisia. Mas os idealistas sempre se fodem. Não existe liberdade sem preço e pela minha paguei caro. Pago caro ... e minhas moedas falsas estão terminando.

Era do tipo que acreditava que se pode mudar o mundo com uma idéia. Quanta besteira.

Ah, eu tenho mesmo muitos defeitos. Acreditar nas pessoas é um deles. Hoje eu sei que 'acreditar nas pessoas' significa apenas que se quer acreditar que as pessoas são como acreditamos. E as pessoas são como são. Não adianta olharmos através de uma lente cor-de-rosa, que filtra os defeitos, a maldade, o oportunismo, o sarcasmo, o ‘to-nem-ai-pra-você’ e colocar cor em qualidades que, na maioria das vezes, foram inventadas por nosso desejo de que elas existissem.

Pensar que, no final tudo vai dar certo, é outro defeito. O que significa 'dar certo', senão desejar que as coisas tomem o rumo que desejamos. Dar certo é apenas um ponto de vista unilateral. E meu ponto de vista unilateral ainda é caolho.

Aliás, tenho sido caolha nesses últimos três anos. E acho eu esse único olho é míope.

Ingenuidade. Passei da idade e ainda sofro desse mal. Mas até a ingenuidade acho que é premeditada, calculada. Sou ingênua com o que me convém ser. Ou com quem me convém. Não sou ingênua porque as pessoas me enganam. Sou ingênua porque me deixo enganar, acreditando que, no final, tudo vai dar certo e que as pessoas são dignas de credibilidade.

No final das contas, minha ingenuidade não passa de uma artimanha elaborada por meu eu nem tão inconsciente assim; se eu fingir que acredito, as coisas tomarão o rumo que desejo.

“No final tudo vai dar certo”. É, vai. Mas, quando chega o final? Em que curva dessa montanha russa é chegado o momento de gritar a safe, de admitir que nada está sob controle e que porra nenhuma vai dar certo só porque eu quero que de?

A impotência física que acompanha meus dias insuportáveis tem nome: ânterolistese L4-L5 acompanhada de formação de cisto sinovial. O nome é bonito; a dor não.

A impotência emocional - nem amor, nem ódio, nem raiva, nem simpatia, nem desespero, nem esperança, nem saudade, nem vontade, apenas impotência, essa também tem nome(s).

Tem sobrenome(s). E, quando lhes é conveniente, lembram do meu nome. Contam-me as suas mentiras. Eu finjo que acredito. Ele(a)s fingem que não sabem que eu apenas finjo que acredito. Eu finjo que não dói. Eles fingem que se importam. Eu finjo que, no final, tudo vai dar certo. Eles não fingem mais que estão se lixando para o meu final infeliz.

Revolta? Não. Eu ainda acredito que tudo vai dar certo. E agradeço.

Como filha da Deusa, eu agradeço. Agradeço á todos os que, de uma forma ou outra, consciente ou inconscientemente, me empurraram pro precipício (eu não me importo com isso. Eu adoro voar). Agradeço aos seus sorrisos falsos, a sua amizade made in Paraguai, ao seu oportunismo calculado, ao roubo dissimulado, ao seus descasos, as suas mentiras, a falta de respeito, a falta de amor. Agradeço sinceramente a todos aqueles que contribuíram para meu atual estado de impotência, de infelicidade, de solidão.

Não fosse a falta de honestidade, de transparência e de caráter de algumas pessoas, certamente hoje não estaria eu assim. Impotente, infeliz e sem rumo.

Mas agradeço e os abençoo. Não fosse por vocês, talvez eu jamais tivesse chegado aonde cheguei e, consequentemente, não estaria hoje vivendo solitária e dolorosamente a grande Iniciação nos Mistérios de Innana.

Morrer e renascer, a Roda está a girar.

Blessed and be!

sexta-feira, 24 de junho de 2011


Atualmente estou fazendo algumas mudanças na minha vida.
Se você não ouvir falar de mim, você é provavelmente uma delas.

(desconheço a autoria, mas é isso ai .... )

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Pequenas Bruxas


Bruxa. Você é ou não é. Nasce Bruxa ou vai passar a vida tentando ser uma.
Tenho uma sobrinha/afilhada de 13 anos de idade. Evangélica de carteirinha - foi o que aprendeu com a mãe, minha irmã.

Mas, muito antes de adotar as crenças da família, por vota dos 7 anos me disse, na porta de minha casa: "dinda, eu sou a Bruxa boa do leste".

Nunca esqueci dessa manifestação espontânea de minha bruxinha loura, mas a compreendi na última quinta-feira.

Por volta das 13hs da quinta, recebeu a ligação de uma colega de escola. A menina avisava que não iria a aula naquele dia.
A noite, sabe-se lá o porquê (eu sei!), estava minha sobrinha escrevendo uma carta de "melhor amiga" à essa coleguinha da mesma idade. Pouco depois de terminar a cartinha soube-se, pela mídia, que cerca de 3 horas depois de ter ligado informando que não iria a aula, a menina morreu num acidente de trânsito.
Minha bruxinha loura chorou muito.
A cartinha, jogou no lixo. Se perguntava porque escreveu uma 'carta de melhor amiga' à uma menina que havia morrido algumas horas antes.
Expliquei à ela que escreveu para que a menina lesse. Para que, de onde está agora, soubesse que aqui na Terra, ela tinha uma melhor amiga.
Minha bruxinha loura continua chorando.
Aposto que Shaianne está sorrindo porque soube se fazer amar, em sua breve passagem nesse planeta.

sábado, 28 de maio de 2011


Aprendi que meninas boazinhas colecionavam elogios e presentes. Eu colecionava bolinhas de gude e cicatrizes.
Hoje,
enquanto algumas esperam viver um conto de fadas, eu já beijei príncipe que virou sapo, construí castelos para morar sozinha, despedi a fada madrinha, escolhi viver com o lobo, ouvi várias histórias mas resolvi escrever a minha._____ **
** __ por isso, e ....
e se a gente simplesmente reconhecesse que nosso relacionamento é ruim, e mesmo assim ficasse junto?
Se admitisse que a gente enlouquece um ao outro, que está sempre brigando e quase nunca transa, mas não consegue viver um sem o outro, por isso agüenta tudo? Daí a gente poderia passar a vida inteira junto... infelizes,... mas felizes por não estarmos separados.... **
(Comer, Rezar, Amar...)

terça-feira, 5 de abril de 2011

Veneno Antimonotonia

Li o livro Psicoterapia Existencial aos 16 anos de idade.
Nada demais para quem lia Kafka aos 14, numa prematura e desesperada tentativa de entender em que planeta havia aterrissado.
De Kafka, faz pouco que li Carta ao Pai. Psicoterapia Existencial ... a existência se encarregou de me colocar em psicoterapia.
Mas desse livro uma passagem ficou. Em algum lugar o autor diz que nascemos como uma folha em branco. Não lembro exatamente do texto, mas lembro da idéia: "uma folha em branco que vai sendo preenchida com as impressões/valores passados pelos pais e, mais tarde, pela sociedade".
Óbvio que a soma de nossas vivências se encarrega de reescrever o texto e, lá pelas tantas, o manuscrito original se transforma em rascunho jogado em algum fundo de gaveta.
Na teoria, somos a soma de nossas experiências. Soma de experiências ... papo complexo esse.
Mas ... deixando de lado os paradigmas que regem a filosofia existencialista de seres em profusão em busca de forma concreta e seu conseqüente resultado na formação de personalidade e caráter próprios a universos pessoais únicos (putz ... me puxei nesse amontoado de palavras sem vírgulas e sem nexo), vou deitar aqui minha sabedoria filosófica de almanaque.

O que eu vivo hoje é sim resultado de minhas experiências. Traumas de infância, surras na adolescência, estupro, seqüestro, amores mal resolvidos, amores amados, correspondidos e bem vividos, doses generosas de infelicidade, doses generosas de momentos felizes, fracassos, sucessos, solidão, festas, lágrimas, gargalhadas e uma coleção de tralhas. Sou eu.
Fundo do poço, beijinho na Samara, escala de volta, cai no chão, levanta, sacode a poeira e alguém passa por cima. Levanta de novo - e, quando eu levantar, corre - morrer e renascer, morrer e renascer.
Agora aqui, de pé, pronta para a próxima. Sem medo, sem pé atrás ... doida varrida. Eu.

E você? Tem o plano perfeito para a vida certinha, politicamente correta, hipocritamente sorridente, mentirosamente feliz, socialmente exemplar?
Fez seu plano de aposentadoria, seu investimento na bolsa para a viagem dos sonhos, seu planejamento estratégico para os próximos 5 anos?
Decidiu qual de seus muitos sorrisos vai usar quando parabenizar por grandes feitos aquele sujeito que você não suporta? Decidiu qual a cor do sapato que combina com o lançamento daquele livro que você vai comprar - com autógrafo, mas que nunca vai ler?
Olhou bem no espelho para ver se não há um único fio de cabelo fora do lugar quando chegar, com seu perfeito par, naquele evento social chato de matar?

Tudo certinho, no lugar, cada coisa onde deve estar?
E quando essa farsa se torna insuportável você, quem diria
vem se abastecer de gente louca como eu ... veneno antimonotonia.

Ah, larguei Kafka de mão. Estou na fase Dostoievisky.
E, como ando lendo Notas do Subterrâneo é por um triz
que não te digo: ligue o foda-se e seja
feliz.

Tá faltando homem

“Tá faltando homem que assuma seus afetos, homem que se apaixone. E que se dane que os outros pensem ou que a sociedade aplauda ou condene. Tá faltando homem que agüente as conseqüências de seus desejos e que defenda as razões de seu coração. Tá faltando homem.”
(Pedro Bial)

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Faz de Conta

Não respondo teus e-mails, e quando respondo sou ríspido, distante, mantenho-me alheio:
FAZ DE CONTA QUE EU TE ODEIO

Te encho de palavras carinhosas, não economizo elogios, me surpreendo de tanto afeto que consigo inventar, sou uma atriz, sou do ramo:
FAZ DE CONTA QUE EU TE AMO.

Estou sempre olhando pro relógio, sempre enaltecendo os planos que eu tinha e que os outros boicotaram, sempre reclamando que os outros fazem tudo errado:
FAZ DE CONTA QUE EU DOU CONTA DO RECADO.

Debocho de festas e de roupas glamurosas, não entendo como é que alguém consegue dormir tarde todas as noites, convidados permanentes para baladas na área vip do inferno:
FAZ DE CONTA QUE EU NÃO QUERO.

Choro ao assistir o telejornal, lamento a dor dos outros e passo noites em claro tentando entender corrupções, descasos, tudo o que demonstra o quanto foi desperdiçado meu voto:
FAZ DE CONTA QUE EU ME IMPORTO.

Digo que perdôo, ofereço cafezinho, lembro dos bons momentos, digo que os ruins ficaram no passado, que já não lembro de nada, pessoas maduras sabem que toda mágoa é peso morto:
FAZ DE CONTA QUE EU NÃO SOFRO.

Cito Aristóteles e Platão, aplaudo ferros retorcidos em galerias de arte, leio poesia concreta, compro telas abstratas, fico fascinada com um arranjo techno para uma música clássica e assisto sem legenda o mais recente filme romeno:
FAZ DE CONTA QUE EU ENTENDO.

Tenho todos os ingredientes para um sanduíche inesquecível, a porta da geladeira está lotada de imãs de tele-entrega, mantenho um bar razoavelmente abastecido, um pouco de sal e pimenta na despensa e o fogão tem oito anos mas parece zerinho:
FAZ DE CONTA QUE EU COZINHO.

Bem-vindo à Disney, o mundo da fantasia, qual é o seu papel? Você pode ser um fantasma que atravessa paredes, ser anão ou ser gigante, um menino prodígio que decorou bem o texto, a criança ingênua que confiou na bruxa, uma sex symbol a espera do seu cowboy:
FAZ DE CONTA QUE NÃO DÓI.

Martha Medeiros

segunda-feira, 21 de março de 2011

Carta ao Pequeno Príncipe


Olá amiguinho. Lembra de mim? Como vai seu pequeno planeta?
Espero que bem. No meu, muito baobá para pouca flor. Aliás, mais espinho do que flor (lembra da história das rosas que se protegem com os espinhos?). Aqui é diferente agora. Temos menos ovelhas comendo rosas e menos rosas do que espinhos, mas isso é outra conversa ...
Aqui também ainda existem aqueles concursos para miss (agora tem miss de tudo) e continuam confundindo você com Maquiavel. Acho que precisam de mais leitura e menos silicone, mas leitura não dá ibope. O que dá ibope é plástica, lipo, silicone ... (e to ferrada amiguinho: sou original de fábrica).
Mas vim mesmo te falar da Raposa. Ando desconfiada dela. Acho que você deveria abrir o olho também.
Dia desses encontrei com ela passeando por ai. Tentei ser educada, mas ela não quis falar comigo.
Me disse que a gente só conhece bem as coisas que cativou. Não entendi lhufas ...
Percebi que ela não é flor que se cheire quando roubou uma mecha do meu cabelo (o cabelo não é original de fábrica; vivo pintando). Tá quase louro de tanta luz, e a desculpa dela foi lembrar de uns campos de trigo.
E é contraditória essa Raposa. Não queria falar mas marcou um encontro. Aliás, vários para irmos nos aproximando. O primeiro foi para a sexta, 21hs.
Ela me pediu para chegar 21hs em ponto porque ficaria feliz desde às 20hs, esperando o grande momento.
Cheguei um pouquinho atrasada e ela surtou. Falou que somos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos e perguntou, focinho vermelho de chorar, se eu tinha consciência de que 'perder tempo com um pessoa faz dessa pessoa importante'. Chantagem emocional, percebe?
Ela queria meu afeto, mas esqueceu que também somos responsáveis quando nos deixamos cativar.
Amiguinho, ela é doida. Quer compromisso com hora marcada e tenta impôr as regras dela para uma troca afetiva. Aliás, as regras estão sempre a favor dela.
Chegou ao ponto de dizer que só seria feliz se eu fosse, como se a felicidade dela estivesse condicionada a um encontro com outro.
Percebe que ela joga no outro a responsabilidade pela felicidade dela?
Parece que nem consegue ver a beleza de um trigal sem lembrar de alguém.
Além disso, parece criança exigindo nossa presença na hora em que ela deseja, como que se o outro devesse algo à ela por tê-la cativado. Cativar é via de mão dupla.
Mas eu cai nessa história. Comprei direitinho as idéias da raposa (culpa da mídia, que vive citando as idéias dela como verdades universais).
"você se torna eternamente responsável por aquilo que cativa" todo mundo decorou (e a frase nem é sua).
Também andei condicionando minha felicidadade a presença de gente em minha vida. E confesso envergonhada que também andei cobrando por terem me cativado.
Bem, me dei conta da besteira. Cada um é responsável por sua própria felicidade.
E agora que mei dei conta, não falo mais com a Raposa.
Se eu fosse você faria o mesmo.
beijos e saudades

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Despertar

Vou tirar do dicionário a palavra VOCÊ
vou trocá-la em miúdos
mudar meu vocabulário e no seu lugar
vou colocar outro absurdo
Vou tirar suas impressões digitais
da minha pele
o seu cheiro dos meus lençóis
o seu rosto do meu gosto
Eu vou tirar você de letra
nem que tenha que inventar
outra gramática
Eu vou tirar você de mim
assim que descobrir
com quantos nãos
se faz um sim
Vou tirar o sentimento
do meu pensamento
Sua imagem e semelhança
Vou parar o movimento a qualquer momento
procurar outra lembrança
Eu vou limar de vez sua voz de meus ouvidos
Eu vou tirar você e eu de nós
O dito pelo não dito
Eu vou tirar você de letra
Eu vou tirar você de mim
assim que descobrir
com quantos nãos
se faz um sim

(desconheço o autor)

domingo, 16 de janeiro de 2011

Me quero de volta


Nada a ver com a música It's Raining Men.
Passando os olhos pela agenda da USP, me deparei hoje com essa obra de Magritte. Quase cinco minutos para lembrar o nome do artista. Não que conheça todas as obras desse gênio da pintura, mas Magritte é inconfundível, contraditório, anarquista; em seus quadros, nada está onde deveria, nunca. E dai?

E dai que percebi há quanto tempo tenho estado perdida de mim.
Mim (coisa de índio) que, há algum tempo ouviu de seus colegas do curso de Estilismo, em aulas de História da Arte: você deveria estar dando essa aula. (não sou expert em nada; apenas amo a arte)

Mim, que quase chorou diante da precisão fotográfica do pincel de Caravaggio na Ceia de Emaús, na National Gallery.

Mim, que de tanto analisar (maravilhada), encontrou falhas nas pinceladas de Van Gogh no único quadro do artista que o British Museum abriga.

Tate Gallery, Van Gogh Museum, Rembrandt House Museum, Louvre ... e mim, horas e horas perdida em história e arte da melhor qualidade.

Mim, rata de galeria de arte, de museu, de biblioteca, de livraria, de sebo.
Mim escritora; 12 anos de publicações.
Mim estilista, viciada moulage, em réguas, tintas, pincéis, lápis de cor. Mim, perambulando pelas Maisons da Europa ou da Oscar Freire. Dior, Guggi, D&G, Chanel ... John Galliano e Lino Vilaventura, meus ídolos.
Mim no São Paulo Fashion Week.

Mim, sacerdotisa da Deusa iniciada em Avallon. Mim no Goddess Conference, em Stonehenge, subindo o Tor, bebendo das águas do Chalice Well.

Mim e entrevistas na TV, palestras, workshops. Mim, anos e anos ensinando mulheres a resgatar o poder da Deusa em si mesmas.
Não, não é sonho de consumo. É realidade vivida, sorvida, absorvida, curriculum de vida.

Dia desses, passando o cartão de crédito numa loja, ouvi da dona: "nossa, é tu. Acompanhei tuas matérias em jornal por anos" ... e nem parei para pensar.

Dia desses, uma de minhas filhas disse: "mãe, o que aconteceu contigo? eu tinha tanto orgulho da mulher que tu eras" ... e nem parei para pensar.


Onde foi que eu me perdi de mim?
Em que curva da estrada deixei de me encantar pelas cores de Miró, pela maestria de Waterhouse, pelas palavras de Virginia Wolf, pela genialidade de Garcia Marquez?
Meus desenhos já amarelados, onde foram guardados? Em que caixa soterrei minhas criações, em que pasta arquivei meus escritos?

Tradição da Deusa, Mistérios do Sangue, Rito de Consagração do Ventre ... alguém ai lembra de como eu dançava e ensinava Danças Circulares? Perdi a música, a inspiração, o ritmo; me perdi da Deusa em mim.

"liberte-se, mulher
desse sonho de aguardar

que te libertem

com os braços cruzados"


Não sei onde estou, mas não importa.
Me quero de volta.