De acordo com sábias palavras de Don Miguel Ruiz, o que vivemos e ouvimos nesse exato momento não passa de um sonho.
O sonho é anterior ao nosso nascimento. Foi criado pelos que vieram antes de nós, e o podemos chamar de Sonho da Sociedadade.
Esse Sonho da Sociedade inclui regras, comportamento, crenças, leis, cultura, bem e mal, certo e errado, enfim ... e como nascemos com a capacidade de sonhar, os que vieram antes de nós nos ensinaram a sonhar da forma que a sociedade sonha.
Não escolhemos nosso nome, nossos valores morais, nossa religião. Não nos deram a oportunidade de escolher no que acreditar ou não.
Mas aprendemos a acreditar, aprendemos a sonhar o sonho alheio. Concordamos com a informação que nos foi passada e acreditamos incondicionalmente nos certos e errados sonhados.
Fomos todos domesticados desde a infância. E no processo de domesticação (assim como se domestica um cão), fomos premiados ou punidos, de acordo com um sistema de castigos e recompensas.
Não faça isso, faça aquilo ... e com medo da rejeição e necessidade da recompensa - a atenção e amor alheios - nos afastamos de nosso eu natural e nos domesticamos para agradar o papai, a mamãe, o professor, o chefe, o namorado, a sociedade.
Já adultos, a morte do eu é tão forte que não mais precisamos desses treinadores. Nos tornamos animais autodomesticados com nosso próprio juiz interno, ditando as regras de acordo com o Livro da Lei escrito pela sociedade.
Nosso juiz interno a tudo julga .. o cão, o gato, o tempo, o que pensamos, fazemos, sentimos.
Toda vez que fazemos algo que vai contra o Livro da Lei, nosso juiz interno nos diz que somos culpados, que devemos nos envergonhar, que precisamos ser punidos.
Outra parte de nós é a vítima. Essa carrega a culpa, a vergonha, a responsabilidade, a sensação de não ser bom o bastante, não ser digno, não ser atraente, não merecer amor e respeito.
O grande juíz interno concorda e diz: sim, você não é bom o suficiente.
Não basta se tornar adulto e ser apresentado a novos valores e conceitos pois, mesmo incorporando ao nosso mundo tais valores, terminamos por descobrir que as velhas crenças ainda controlam nossas vidas.
Quebrar as regras do Livro da Lei abre ferimentos emocionais, porque aprendemos com nossos pais e, mais tarde com nosso juiz interno que tudo o que está escrito lá é verdade.
E qualquer coisa que vá contra aquelas verdades produz insegurança. Mesmo que o Livro esteja errado, ele faz com que nos sintamos seguros.
Todas as Leis estão no Livro e juiz dentro de nós baseia tudo nessas regras. Mas .. seria justo esse juíz?
Justiça é pagar por um erro apenas uma vez. Nenhum condenado vai para a cadeia mais de uma vez pagar pelo mesmo crime.
Injustiça é pagar mais de uma vez pelo mesmo 'crime'.
Quantas vezes pagamos pelo mesmo erro? Milhares de vezes.
O ser humano é o único animal sobre a Terra que paga mil vezes pelo mesmo erro.
Nossa memória é poderosa. Cometemos um erro, somos julgados por nosso juiz interno, condenados e castigados.
Se existe justiça, é o suficiente. Não precisamos sofrer duas vezes pelo mesmo erro cometido.
Mas não funciona assim: lembramos do erro, relembramos, nos declaramos culpados e nos punimos outra vez, e outra, e outras tantas ainda.
E, se não o fizermos, outras pessoas o farão.
Usarão seu próprio juíz interno para nos lembrar centenas de vezes do mesmo erro, jogando sobre nós seu veneno emocional.
E seremos julgados, condenados e punidos essas centenas de vezes pelo mesmo erro.
A maioria das pessoas tem medo do inferno, o 'local das punições', mas .. onde fica o inferno?
Más notícias: já estamos no inferno!
Fica exatamente aqui: o local da punição, da dor, do sofrimento, da violência física e verbal, da raiva, da vingança, do medo, do ódio, da inveja.
É aqui que transformamos nosso sonho num pesadelo.
É aqui que nosso juíz interno nos condena e condena e condena.
É aqui que juízes internos alheios anotam em seus Livros da Lei - seu caderninho de notas - nosso erros e nossas dores.
E é aqui que, vez por outra, enfiam seus dedos cheios de ódio em nossas feridas não cicatrizadas e, como donos absolutos da verdade, nos fazem sofrer pela enésina vez a mesma dor.
"Há três coisas na vida que nunca voltam atrás:
a flecha lançada, a palavra pronunciada e a opotunidade perdida"
(Provérbio chinês)