Hora de ir embora (literalmente).
Coisa difícil essa de mudar de estado (civil, emocional e geográfico).
O estado civil ficou para trás há quase dois anos, civilizadamente.
O estado emocional, caótico, sem despedida.
(eu fui embora tendo a certeza de que, mais uma vez, não sou eu quem vai embora)
Decisão tomada. Direção escolhida. São Paulo.
Roupas, alguns livros, cd's e só. O resto fica.
O diabo é que o resto não é composto apenas de carro, móveis, panelas, eletrodomésticos e tralhas acumuladas por anos.
O resto é composto de vida vivida alegre doída de risada ferida de choro de dança de beijo de lágrima de amor de dor de sexo de falta de nexo de amigos de chuvas de plantas de ritos de lua cheia de fantasias manias meus quadros momentos de frio baladas de noite calada crianças chamando ex amor da vez saudade melancolia a cama vazia caixinha de sonhos telefone tocando sol queimando lençol amassado corpo suado coração estraçalhado cabelo molhado o boteco da esquina desenho tecido ruído saudade de novo vazio silêncio.
Eu começei minha faxina
Tudo o que não serve mais
momentos, sentimentos, pessoas
Eu coloquei dentro de uma caixa
sem apego, sem melancolia, sem saudade
(Ah, como que queria que esse desapego fosse de verdade)
domingo, 21 de novembro de 2010
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Nonsense
Por vezes com requintes de crueldade (des)humana. Propositais e premeditados, lhe deixavam cicatrizes profundas na alma.
Por vezes, pequenos assassinatos, desses que os seres (des)humanos cometem todos os dias contra quem lhes abre a porta da vida e os convida para entrar.
A intensidade da dor de cada morte era sempre proporcional á parcela de vida que cada morte levava consigo.
Alguns mistérios deveriam ser de conhecimento do mundo: a vida de cada ser é semelhante a um mosaico. Cada mosaico pessoal é feito de inúmeras pedras coloridas – algumas de tom escuro, e a composição do desenho dessas pedras forma o todo de cada vida e mantém o mosaico inteiro. Ai reside o segredo.
A cada assassinato, roubavam-lhe uma pedra. Por vezes, a cor da pedra era a de um sonho; por vezes uma esperança, uma crença, um sorriso. E, por vezes, quebravam-lhe o mosaico inteiro.
Nessas ocasiões, punha-se ela teimosamente a juntar cada uma das pedras (creio que até colar algumas que encontrava quebradas), e refazer sua alma-mosaico. Algumas se estraçalhavam de tal forma que, feito farelos, ficavam perdidas pelo chão e tornavam-se pó levado pelo vento. O mosaico, então, não voltava jamais a sua forma original.
(mal sabem os assassinos que é impossível matar de uma só vez uma mulher que leu Kafka desde menina)
“olhos de cão azul”, dizia ela ao despertar do pesadelo – embora ‘o homem’ não fizesse parte dele. E recordava das mulheres Buendia de Garcia Marquez, do anjo que caiu no galinheiro e da avó desalmada de Cândida Erendia.
Por vezes, quando a dor era maior, tentava recordar das muitas vitórias que havia conquistado um dia – num passado nem tão distante, e sorria pensando nos assassinatos aos quais sobrevivera.
“a desilusão enfraquece aos fracos; aos fortes, ela serve de alicerce”. A frase ouvida na adolescência era seu lema.
Mas, de tempos em tempos, ela era assassinada.
Com o tempo, as recordações de quem havia sido deixaram de ser suficientes para que cuidasse das feridas. As cicatrizes invisíveis voltavam a provocar dor. Dejavu.
Então, toda a vez que sofria um novo pequeno (ou grande) assassinato, percebia-se mais fraca e menos disposta a tentar reconstruir-se. Talvez fossem as pedras do mosaico, desgastadas e escassas.
Ainda assim, de tempos em tempos, ela era assassinada.
Palavras ditas (ou jamais pronunciadas), gestos, comportamentos, pequenas e grandes agressões, mentiras, e mesmo um sentimento de inadequação lhe subtraiam facilmente uma parcela da alma.
“uma pedrinha tão pequena não há de fazer falta a um rochedo”.
Aqueles com os quais interagia possivelmente não sabiam que, do rochedo, restava apenas a aparência.
“o essencial é invisível aos olhos” e restava-lhe pouco da essência.
Quão contraditórios são os seres humanos. Amam (ou amaram) – assim o dizem, mas assassinam a quem os ama.
Quanta percepção falta às pessoas – ou quanta insensibilidade lhes sobra. Matam sem perceber, matam por prazer, matam para alimentar sua vaidade, pisam em sonhos que não souberam sonhar, roubam amor que não pretendem dar e, ao final do espetáculo batem a porta atrás de si e voltam aos seus mundinhos perfeitos, castelos de areia. Levam consigo a poeira de mais uma pedra do mosaico partido. Quem se importa?
Talvez só percebam que ela foi efetivamente assassinada quando do mosaico restar apenas o pó.
Alguns deles pensam: mas existe “a outra”. Estão tão presos as verdades que criaram para si que não percebem que a “outra” não vive sem a primeira, e a primeira ...de tempos em tempos ela é assassinada.
Mara Barrionuevo
Adendo
Mara Barrionuevo
Adendo
De tempos em tempos, ela ainda é assassinada. Mas a mulher que dizia "mal sabem os assassinos que é impossível matar de uma só vez uma mulher que leu Kafka desde menina", largou Kafka de mão e hoje lê Dostoiévski ... Notas do Subterrâneo.
Não vai restar apenas pó do mosaico no qual sua alma foi tecida; afinal, são 4 anos e ainda não conseguiram assassiná-la definitivamente.
Ela ressurge do pó, do amontoado de cinzas no qual transformaram sua alma.
Não ressurge das cinzas como a Fênix, mas como o Corvo, o lado negro da lua, a face escura da Deusa.
E agora, essa filha de Morrighan vai acertar as contas com todos aqueles que, de tempos em tempos, tentaram assassiná-la.
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
domingo, 5 de setembro de 2010
Há um monstro no meu armário
Amanhã eu resolvo. E amanhã penso de novo que, amanhã, eu resolvo.
Quem quer enfrentar um problema hoje? Eu não. Nem você. Ninguém quer um problema no cardápio do dia. Então, adia!
Maldito hábito de adiar qualquer coisa que nos tire da fantasiosa zona de conforto, de acreditar que problemas se resolvem por milagre de um deus qualquer ou que amanhã vai ser mais fácil.
Amanhã eu acordo cheia de coragem e resolvo isso. Começo a dieta. Me inscrevo na academia. Procuro emprego. Dou uma olhada naqueles apartamentos que listei. Tenho aquela conversa sobre aquele assunto que incomoda. Coloco o contas à pagar no Excell. Faço aquelas 23 ligações pendentes há meses. Reviso a data de validade daquelas dúzias de caixinhas de medicamentos. Coloco a agenda em dia. Mando o carro pra revisão. Paro de fumar. Corto o cabelo. Mudo de cidade. Mudo de amor. Mudo de vida.
Não interessa a dimensão ou consequências do que tenho para resolver. Amanhã eu resolvo.
Que saco! Todo dia a gente acorda e a droga do problema não sumiu misteriosamente. Tá ali, na xícara do café da manhã. Vai com a gente para o banho, passa o dia agarradinho e dorme abraçadinho aos nossos pesadelos.
Todo dia a gente tenta esconder o problema no armário. E surge outro. E a gente empurra pro armário. Mais um problema ... armário.
E ai chega o dia fatal. O armário lotou e a gente nem percebeu.
Abre o armário e .. tchannnn ... sai um puta monstro lá de dentro. Um monstro à la Frankstein, primorosamente construído do material dos problemas que jogamos no armário.
E, dependendo do tamanho do monstro, ele vai nos engolir. Engolir depois de mascar nossas dores e medos, e cuspir.
Vai nos cuspir de volta para o mundo. Mais frágeis. Mais assustados. Mais e mais incapazes de enfrentar os retalhos do qual ele foi criado.
Vai nos dizer: meu nome é MEDO e agora sou eu quem manda. Sou criação dos teus pequenos medos, das tuas pequenas covardias. E ai, vai me encarar?
Mas não basta criar e alimentar o monstro todos os dias com nossas indecisões.
Ainda existem aquelas perguntas que a gente não tem coragem de fazer. Morre de medo das respostas. As conversas necessárias que a gente não tem coragem de começar. Morre de medo dos resultados.
E tem os sapos. Os sapos que a gente engole todo santo dia. Engole para não se incomodar. Engole por falta de coragem de mandar o interlocutor à pqp, engole para não magoar, engole por engolir.
Há um monstro no meu armário e travamos um duelo. Que vença o melhor!
Quanto aos sapos, chega de engolir. Não quero acordar dia desses com um brejo no estômago.
Quem quer enfrentar um problema hoje? Eu não. Nem você. Ninguém quer um problema no cardápio do dia. Então, adia!
Maldito hábito de adiar qualquer coisa que nos tire da fantasiosa zona de conforto, de acreditar que problemas se resolvem por milagre de um deus qualquer ou que amanhã vai ser mais fácil.
Amanhã eu acordo cheia de coragem e resolvo isso. Começo a dieta. Me inscrevo na academia. Procuro emprego. Dou uma olhada naqueles apartamentos que listei. Tenho aquela conversa sobre aquele assunto que incomoda. Coloco o contas à pagar no Excell. Faço aquelas 23 ligações pendentes há meses. Reviso a data de validade daquelas dúzias de caixinhas de medicamentos. Coloco a agenda em dia. Mando o carro pra revisão. Paro de fumar. Corto o cabelo. Mudo de cidade. Mudo de amor. Mudo de vida.
Não interessa a dimensão ou consequências do que tenho para resolver. Amanhã eu resolvo.
Que saco! Todo dia a gente acorda e a droga do problema não sumiu misteriosamente. Tá ali, na xícara do café da manhã. Vai com a gente para o banho, passa o dia agarradinho e dorme abraçadinho aos nossos pesadelos.
Todo dia a gente tenta esconder o problema no armário. E surge outro. E a gente empurra pro armário. Mais um problema ... armário.
E ai chega o dia fatal. O armário lotou e a gente nem percebeu.
Abre o armário e .. tchannnn ... sai um puta monstro lá de dentro. Um monstro à la Frankstein, primorosamente construído do material dos problemas que jogamos no armário.
E, dependendo do tamanho do monstro, ele vai nos engolir. Engolir depois de mascar nossas dores e medos, e cuspir.
Vai nos cuspir de volta para o mundo. Mais frágeis. Mais assustados. Mais e mais incapazes de enfrentar os retalhos do qual ele foi criado.
Vai nos dizer: meu nome é MEDO e agora sou eu quem manda. Sou criação dos teus pequenos medos, das tuas pequenas covardias. E ai, vai me encarar?
Mas não basta criar e alimentar o monstro todos os dias com nossas indecisões.
Ainda existem aquelas perguntas que a gente não tem coragem de fazer. Morre de medo das respostas. As conversas necessárias que a gente não tem coragem de começar. Morre de medo dos resultados.
E tem os sapos. Os sapos que a gente engole todo santo dia. Engole para não se incomodar. Engole por falta de coragem de mandar o interlocutor à pqp, engole para não magoar, engole por engolir.
Há um monstro no meu armário e travamos um duelo. Que vença o melhor!
Quanto aos sapos, chega de engolir. Não quero acordar dia desses com um brejo no estômago.
sábado, 6 de fevereiro de 2010
No Banco dos Réus
De acordo com sábias palavras de Don Miguel Ruiz, o que vivemos e ouvimos nesse exato momento não passa de um sonho.
O sonho é anterior ao nosso nascimento. Foi criado pelos que vieram antes de nós, e o podemos chamar de Sonho da Sociedadade.
Esse Sonho da Sociedade inclui regras, comportamento, crenças, leis, cultura, bem e mal, certo e errado, enfim ... e como nascemos com a capacidade de sonhar, os que vieram antes de nós nos ensinaram a sonhar da forma que a sociedade sonha.
Não escolhemos nosso nome, nossos valores morais, nossa religião. Não nos deram a oportunidade de escolher no que acreditar ou não.
Mas aprendemos a acreditar, aprendemos a sonhar o sonho alheio. Concordamos com a informação que nos foi passada e acreditamos incondicionalmente nos certos e errados sonhados.
Fomos todos domesticados desde a infância. E no processo de domesticação (assim como se domestica um cão), fomos premiados ou punidos, de acordo com um sistema de castigos e recompensas.
Não faça isso, faça aquilo ... e com medo da rejeição e necessidade da recompensa - a atenção e amor alheios - nos afastamos de nosso eu natural e nos domesticamos para agradar o papai, a mamãe, o professor, o chefe, o namorado, a sociedade.
Já adultos, a morte do eu é tão forte que não mais precisamos desses treinadores. Nos tornamos animais autodomesticados com nosso próprio juiz interno, ditando as regras de acordo com o Livro da Lei escrito pela sociedade.
Nosso juiz interno a tudo julga .. o cão, o gato, o tempo, o que pensamos, fazemos, sentimos.
Toda vez que fazemos algo que vai contra o Livro da Lei, nosso juiz interno nos diz que somos culpados, que devemos nos envergonhar, que precisamos ser punidos.
Outra parte de nós é a vítima. Essa carrega a culpa, a vergonha, a responsabilidade, a sensação de não ser bom o bastante, não ser digno, não ser atraente, não merecer amor e respeito.
O grande juíz interno concorda e diz: sim, você não é bom o suficiente.
Não basta se tornar adulto e ser apresentado a novos valores e conceitos pois, mesmo incorporando ao nosso mundo tais valores, terminamos por descobrir que as velhas crenças ainda controlam nossas vidas.
Quebrar as regras do Livro da Lei abre ferimentos emocionais, porque aprendemos com nossos pais e, mais tarde com nosso juiz interno que tudo o que está escrito lá é verdade.
E qualquer coisa que vá contra aquelas verdades produz insegurança. Mesmo que o Livro esteja errado, ele faz com que nos sintamos seguros.
Todas as Leis estão no Livro e juiz dentro de nós baseia tudo nessas regras. Mas .. seria justo esse juíz?
Justiça é pagar por um erro apenas uma vez. Nenhum condenado vai para a cadeia mais de uma vez pagar pelo mesmo crime.
Injustiça é pagar mais de uma vez pelo mesmo 'crime'.
Quantas vezes pagamos pelo mesmo erro? Milhares de vezes.
O ser humano é o único animal sobre a Terra que paga mil vezes pelo mesmo erro.
Nossa memória é poderosa. Cometemos um erro, somos julgados por nosso juiz interno, condenados e castigados.
Se existe justiça, é o suficiente. Não precisamos sofrer duas vezes pelo mesmo erro cometido.
Mas não funciona assim: lembramos do erro, relembramos, nos declaramos culpados e nos punimos outra vez, e outra, e outras tantas ainda.
E, se não o fizermos, outras pessoas o farão.
Usarão seu próprio juíz interno para nos lembrar centenas de vezes do mesmo erro, jogando sobre nós seu veneno emocional.
E seremos julgados, condenados e punidos essas centenas de vezes pelo mesmo erro.
A maioria das pessoas tem medo do inferno, o 'local das punições', mas .. onde fica o inferno?
Más notícias: já estamos no inferno!
Fica exatamente aqui: o local da punição, da dor, do sofrimento, da violência física e verbal, da raiva, da vingança, do medo, do ódio, da inveja.
É aqui que transformamos nosso sonho num pesadelo.
É aqui que nosso juíz interno nos condena e condena e condena.
É aqui que juízes internos alheios anotam em seus Livros da Lei - seu caderninho de notas - nosso erros e nossas dores.
E é aqui que, vez por outra, enfiam seus dedos cheios de ódio em nossas feridas não cicatrizadas e, como donos absolutos da verdade, nos fazem sofrer pela enésina vez a mesma dor.
"Há três coisas na vida que nunca voltam atrás:
a flecha lançada, a palavra pronunciada e a opotunidade perdida"
(Provérbio chinês)
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
Até ontem, me preocupava quando os outros falavam mal de mim.
Então fazia o que os outros queriam, e a minha consciência me censurava.
Entretanto, apesar do meu esforço para ser o que esperavam que eu fosse, alguém sempre me difamava, me insultava, me fazia sentir a pior das mulheres.
Como agradeço a essas pessoas, que me ensinaram que a vida é apenas um cenário!
Desse momento em diante, atrevo-me a ser como sou.
Sou guerreira:
a minha espada é o amor
o meu escudo é o humor
o meu espaço é a coerência
o meu texto é a liberdade.
Perdoem-me se estar viva lhes é insuportável, mas não escolhi o bom senso comum.
Lhes ocorre que é possível que tenhamos que ser apenas humanos?
(anseio que descubras a mensagem por detrás das palavras)
Não sou sábia, santa ou imune à erros.
Sou apenas um ser tentando se apaixonar pela vida.
E a melhor forma de despertar é deixando de questionar se nossas ações incomodam aqueles que dormem ao nosso lado.
A chegada não importa, o caminho e a meta são a mesma coisa.
Não precisamos correr para algum lugar, apenas dar cada passo com plena consciência.
Quando somos maiores que aquilo que fazemos, nada pode nos desequilibrar.
Porém, quando permitimos que as coisas sejam maiores do que nós, o nosso desequilíbrio está garantido.
É possível que sejamos apenas água fluindo e o caminho terá que ser feito por nós.
Porém, não permitas que o leito escravize o rio, ou então, em vez de um caminho, terás um cárcere.
Amo a minha loucura que me vacina contra a estupidez, e tenho tentando lutar contra a infelicidade que prolifera, infectando almas e atrofiando corações.
As pessoas estão tão acostumadas com a infelicidade, que a sensação de felicidade lhes parece estranha.
As pessoas estão tão reprimidas, que a ternura espontânea as incomoda, e o amor lhes inspira desconfiança.
A vida deveria ser vista como um cântico à beleza,
uma chamada à transparência.
Peço-lhes perdão, mas cansei de ser infeliz para agradar aos infelizes
(li por ai, curti)
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